sexta-feira, 28 de agosto de 2009

REFLEXÃO - “A Paixão de Conhecer o Mundo”

Este é o título do primeiro livro que fui orientada a ler logo quando ingressei no Magistério na década de 90. Escrito por Madalena Freire e, não por acaso, filha do renomado educador Paulo Freire, ambos (livro, autora e pai) ampliariam meu mundo daquele momento em diante sem a menor possibilidade de volta.

Quanto conhecimento apreendi ao folheá-lo, mitos se desfizeram e quantas descobertas acerca do papel da verdadeira arte de educar! Eu, tão jovem e inexperiente, apaixonei-me mais por esse mundo, porém, ele é cruel, já diziam outros e, partindo para os braços desse desconhecido, dediquei-lhe meu coração. Amar as crianças não é suficiente, é requisito básico, depois disso, aprofundar as metodologias de ensino e transferir tudo o que se aprende na mesma proporção em que recebe ensinamentos dos pequenos é, realmente, “fazer arte” (já ouviu essa expressão antes? Mães, normalmente, a usam: “está fazendo arte, não é, menininho?”; “que arte aprontou agora?” ou “essa criança é muito arteira!”) e, para ser artista nessa vida é preciso brilhar, caso contrário, seremos figurantes, apenas mais um preenchendo o espaço vazio no cenário da vida. Eis um dos aspectos que a educadora vai abrindo ao leitor: crianças são artistas natas e lidar com tanta curiosidade e criatividade é trabalho exigente, contudo, gratificante demais.

Ler Madalena Freire naquele momento foi um misto de descobertas e de alerta às dificuldades que, certamente, viriam pelo caminho. E vieram. Na hora dos estágios e depois na busca do emprego deparei-me com situações diversas: de crianças perfumadas e com boa estrutura socioeconômica até às que cheiravam a xixi e sequer tinham piso no chão de casa, a não ser o barro batido; as primeiras tinham nutricionista elaborando cardápio semanal,as outras comiam dos alimentos da horta escolar (e esperavam ansiosas por eles!);enquanto umas transpunham dificuldades escolares com apoio psicopedagógico, aquelas outras seguiam em “turmas remanejadas” dependendo dos esforços de uma professora abnegada.

Estas e outras situações ao longo de uma busca que iniciou ainda quando criança, desgastaram-me, consumiram-me. Deparei-me com a exploração e a falta de respeito de uma diretora de pré-escola em relação às professoras novatas, jamais imaginei que pudesse sofrer e ouvir humilhações tamanhas de alguém que se comprometia com pais e crianças nessa arte de educar: a mim bastaram dois meses naquele lugar, quase deixei-me abater, quis odiar a infância (anjos de um maternal!) que nada tinha-me feito de ruim, estava transferindo a indignação de modo errado, saí de cena (e o mundo foi cruel, de fato, naquele momento), senti um alívio imenso e, por outro lado, frustração: teria eu escolhido a profissão errada por tanto tempo? Teria me equivocado e teriam se equivocado minhas mestras no curso também? Quem esqueceu de me avisar? E as boas notas, os elogios, os bons trabalhos e tudo mais, de que serviam, então? Onde estava a minha “paixão de conhecer o mundo” naquelas horas?

Como não se deve desistir na primeira dificuldade, segunda, terceira ou quarta em diante… aceitei, a convite de uma colega, lecionar inglês para crianças de 4 a 6 anos numa escola particular quando já cursava o segundo ano da faculdade. Consegui me apaixonar novamente e, após oito meses de excelente convívio com outros funcionários, professores e crianças, fui capaz de entender que a vocação não depende da opinião de uma só pessoa, ela subsiste dentro de você, apesar de forças contrárias tentando minar essa paixão. E compreendi que o mundo não é cruel, mas, uns e outros podem torná-lo assim. São pedras no caminho: tente empurrá-las dali se valer o esforço, nem sempre se consegue, há pedras que têm o desprazer de manter-se à frente entulhando seu trajeto; chute-as (precisará de bons sapatos, caso contrário, sairá machucado!) ou apenas as ignore, desvie-se e siga adiante. Sua personalidade e experiência de vida responderão por si. Naquela ocasião da pré-escola deixei a pedra para trás, talvez hoje, mais madura, teria dito umas poucas e boas, mesmo sabendo que a pedra sempre foi pedra e não se tornaria nada menos dura e vazia, compreende? Seria um desabafo, um não-engolir de sapos tão somente!

Conhecer o mundo e alfabetizar podem ser companheiros de vida ou inimigos entre si, tudo dependerá do conceito que se tem de um e outro e como profissionais da área os transmitem. Nas diversas leituras de Paulo Freire, Jean Piaget, Emília Ferreiro entre tantos outros que se dedicaram à Arte de Educar, pude abstrair de cada um deles um pouco dessa mesma paixão que se traduz em conhecer o mundo (o nosso próprio, em particular, e o do outro) além de representá-lo por meio da comunicação oral e escrita, sobretudo, através das entrelinhas desta vida, das pausas, das reticências, das exclamações e interrogações intermináveis. Ponto final é difícil dizer.

Todos os educadores sabem (ou devem) que alfabetizar é muito mais que ensinar o bê-a-bá, vai além da simples transmissão do conhecimento uma vez que este não vem pronto e destinado igualmente para os cidadãos do mundo, sejam crianças, jovens ou adultos. Achegar-se a cada um desses mundos e levá-los à prática do ler e do escrever, especialmente, do tornar-se gente é tarefa das mais valorosas e nem sempre correspondida à altura. Sábias palavras contidas na “Carta de Paulo Freire aos professores”: sugiro uma releitura aos que já a conhecem e a leitura atenta para quem ainda não teve o prazer de lê-la e compreender de que paixão a filha Madalena Freire esteve a falar em seu referido livro e da qual compartilhei juntamente desde que me foi apresentada.

Se você quiser complementar essa leitura da Carta, assista ao vídeo e ouça palavras que, certamente, enriquecerão ainda mais seu/ nosso mundo!

Boa sexta-feira e um fim de semana cheio de paixão para você!

Bibliografia que inspirou o post de hoje:

"A Paixão de Conhecer o Mundo"

Madalena Freire
São Paulo: Editora Paz e Terra

Fonte da Carta de Paulo Freire aos Professores:Instituto Paulo Freire

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

REFLEXÃO – Viraletras ou Vira-letras?

Lembro-me do 1º de março quando esse blog que vos fala nasceu. Sim, “ele fala”! Tem vida própria, mesmo que se tente levá-lo em rédeas curtas como notei ao longo desses poucos meses. Isso não é ruim, é quase natural; “quase” porque é sabido que o blog tem alguém que o escreve, que o pensa, que o movimenta, que o controla até algum ponto e que, por sua vez, é um ser em transição. Falando em transição, também a língua materna sofre, eventualmente, ao longo do tempo a sua própria e o título do post hoje não é apenas uma dúvida (para mim nem tanto…o baby é meu e nome é nome. Se eu quisesse chamá-lo INCONSTITUCIONALISSIMAMENTE DA SILVA? Tudo bem, sei que o bom senso precisa soprar aos ouvidos dos pais na hora em que se toma tal decisão, afinal, o bambino vai carregá-lo para o resto da vida e as pessoas parariam sempre no começo com a seguinte pergunta: INCONST… o quê??? Seria muito chato para o pequeno ter que explicar e repetir a mesma coisa ao longo dos anos, ao final, excomungaria a família. Não é isso que se deseja ao escolher um nome para quem se ama, concorda?), o título de hoje, por conseguinte, é uma homenagem “reflexiva”, pois é, essa é uma das particularidades desse blog à qual me propus desde o início: refletir toda sexta-feira, além de informar, compartilhar, divagar, desabafar, fazer rir e até chorar (de raiva? Espero que não…rs) em qualquer outro dia da semana, enfim, nos últimos tempos ando assoberbada, tenho postado semanalmente com frequência somente as reflexões das sextas-feiras.

Esse “bichinho virtual”, “diário ou periódico eletrônico”, “terapEUta pessoal ou grupal”, como queira descrever dadas as exigências particulares e cuidados que requer, ao ler e participar da blogosfera você percebe que existe a sua ideia inicial e existem ideias de tantos outros blogueiros que por aqui “circulam” (não à toa o termo “blogosfera” e, não à toa, o nome de cada um desses blogs terem uma real importância e um significado próprios).

O Viraletras foi concebido, de fato, da necessidade de explorar o que há nesta curiosa e pseudoafastada estudante das Letras e quem já circula (para não perder o ritmo da esfera…) por aqui, sabe também, que além da sobrinhamiga ter incentivado e apoiado bastante a “tia que gosta de escrever” (dos enormes e-mails que trocamos e através dos quais nos tornamos mais que tia e sobrinha somente…), outro fator decisivo e impulsionador foi não permitir que ficassem estanques sentimentos desde a morte de minha mãe em novembro passado, era preciso extravasá-los ou me sufocariam ainda mais.

E, voltando ao parto desse pequeno…

A Cris veio até minha casa junto do marido, o Adriano, que também teve participação especial no nome do blog. Ela, amadurecida na prática de blogar, foi logo compondo a base e, feito uma inseminação artificial, indagava como eu gostaria que a “cria” tivesse suas feições (olhos azuis ou castanhos, cabelos lisos ou cacheados, etc., etc., etc. rs). A parte que lhe coube foi feita. E eis que veio a pergunta que suscitou a reflexão de hoje: qual é o nome da criança? Meses antes, em nossos e-mails já havíamos combinado algumas coisas, inclusive, dar à luz ao pequeno em breve, pois, há muito eu tinha me tornado assídua leitora do Cristiane Marino e, de certo modo, ingressei na blogosfera através dele. Mas, uma coisa é ler um blog, outra bem diferente é manter, o que implica, em algum momento ou em vários, “revelar-se”. Não sei se é possível ou mesmo interessante ficar totalmente anônimo nesse meio, sua escrita também é reveladora, uma extensão de si, e, afinal, há inúmeros recursos que localizam, apontam, identificam você, aliás, tenho feito uso de alguns na aprendizagem com blogueiros mais experientes no intuito de melhorar essa relação. Sou bastante arredia em alguns aspectos, demoro para devotar confiança e não gosto de me expor tanto, o blog precisava de um nome que não fosse o meu próprio, pensei alguns que desceram por água abaixo e já tinham domínio. Nessas horas a criatividade (ou falta dela porque outros já tinham escolhido certos nomes…rs) precisa gritar e a colaboração do esposo e dos sobrinhos foi válida, começamos um brainstorming e, de uma última cartada entre três possíveis nomes, eu escolhi e remodelei o possível “vila letras” ou “vila das letras” que o Adriano sugerira. Foi engraçado e houve até votação. Sei que Viraletras nascera em época de reforma ortográfica e, com hífen ou sem hífen, eis a questão!

Após pensar e repensar, a lógica da gramática induzia para o Vira-letras, num relâmpago todos os conhecimentos do curso vieram à tona e, mais do que nome próprio, do que desafiar e se opor simplesmente, inovar e discutir o assunto de Virar ou não virar, um apelo maior se fez pelo significado do termo: vira…letras! O fato das Letras virarem meu mundo desde que as conheci determinou o que eu pretendia com o blog. Não por acaso, há tempos eu vivencio e “viro” um pouco do que as letras me ensinam. Talvez o blog pudesse até chamar-se Viroletras, não? Claro, ele transforma este ser real no ser virtual, consegue transportar minhas ideias e sentimentos e trazê-los de volta em forma de aprendizagem, da troca constante entre os blogamigos e até de alguns blogvisitantes. O espaço comporta muitas e muitas letras, de maneira ilimitada. Blogues de todos os tipos surgem e se conectam por identificação com alguma filosofia de vida, de trabalho ou seja lá o que for.

Esse pequeno está engatinhando, mas, desde que o batizei, creio que tem feito seu papel e representado um pouco da sua progenitora, pois, já dizia o velho e sábio ditado: quem sai aos seus não degenera!

Bom final de semana para você, com muitas letrinhas!

sopa_de_letrasFonte da imagem: Google

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

REFLEXÃO – Poesia para crianças (e adultos)

Desde que iniciei o blog tive vontade de abranger mais esse assunto, inclusive, de postar mais poemas infantis, o que ao meu ver não parece ser algo muito aprofundado quando se estuda o Magistério e até mesmo o curso de Letras, como aconteceu no meu caso: desculpe se incorro num grave erro neste ponto, talvez os cursos referidos estejam dando mais ênfase no conteúdo atualmente, sei que muitas mudanças ocorreram ao longos desses anos em que estou ausente do meio acadêmico, não posso precisar sobre este em questão. (Em off: lá se vão 15 anos em que concluí o Magistério e outros 10, que completei este ano, o curso de Letras! Caramba, como o tempo voa!rs…Isso me deixou mais velha!kkkkk!)

O fato é que gosto e já expus poesias de Olavo Bilac aqui e acolá. Intento postar outras, tanto dele quanto de outros poetas que muito contribuíram para a Literatura. Curiosamente, em vias de me formar “sofressorinha”, em meio à loucura dos estágios, revirando os livros nas prateleiras da biblioteca, fazendo pesquisas e mais pesquisas, planejando aulas e “tentando inovar” (coisa básica que os supervisores pedem a todo principiante!), deparei-me com alguns poemas infantis, encantei-me com a simplicidade do conteúdo e com a riqueza presente nas entrelinhas ao lê-los! Intitulados “infantis”, porém, muito se podia extrair de significativo para uma jovem normalista. Diante de mim havia um mundo de possibilidades! Além disso, crianças gostam e precisam ser estimuladas sempre mais a apreciar esse tipo de texto. Mães ninam os filhos com cantigas rimadas, com a sonoridade das palavras, sabemos muitas questionáveis, outras mais lúdicas. Nos primeiros anos do jardim de infância canta-se muito, gesticula-se para expressar o que se canta e, de certo modo, a poesia está inserida no contexto da criança, mas, a partir da alfabetização isso vai diminuindo e mudando de forma, outras vezes desaparece completamente da vida do aluno.

Não é tarefa fácil aprofundar o tema, entretanto, desvincular-se da poesia por completo é deixar passar algo preciosíssimo, principalmente num mundo carente por expressar-se como o da juventude.

Dias desses, lendo uma história para meu baixinho, lá pelas tantas um dos personagens citava uns versinhos e ele riu à beça, mesmo sem compreender completamente o teor do que era lido; a sonoridade e a rima das palavras despertaram algo na criança e eu percebi o quanto poesia faz bem, mesmo para quem mal entende o que é e como se faz aquilo e pediu que eu repetisse os versos muitas e muitas vezes.

A respeito do título do post de hoje, estive a pensar como o professor em sala e, mesmo em casa com pai, mãe ou qualquer adulto que goste e leia poesia para crianças pode servir de elo entre o que há de belo e mais profundo nessa arte. A partir da poesia é possível compreender o mundo e as pessoas que nos cercam, é possível extravasar, criar e recriar, dar sentido ao que, aparentemente, não tinha nenhum antes.

E, para não deixar passar em branco, escolhi outros dois poemas da Coletânea de Poesias Infantis de Olavo Bilac. Devo dizer que é muito difícil selecionar,pois, quando me deparei com essa riqueza fiquei a imaginar como o poeta conseguiu traduzir o mundo em forma de poemas tão singelos que podem agradar às crianças e aos adultos (e quantas lições podem evocar!).

Um final de semana cheio de poesia para você! Se gostar, leia outras no Portal São Francisco, ok?

avo

O Avô

Este, que, desde a sua mocidade,

Penou, suou, sofreu, cavando a terra,

Foi robusto e valente, e, em outra idade,

Servindo à Pátria, conheceu a guerra.

Combateu, viu a morte, e foi ferido;

E, abandonando a carabina e a espada,

Veio, depois do seu dever cumprido,

Tratar das terras, e empunhar a enxada.

Hoje, a custo somente move os passos...

Tem os cabelos brancos; não tem dentes...

Porém remoça, quando tem nos braços

Os dois netos queridos e inocentes.

Conta-lhes os seus anos de alegria,

Os dias de perigos e de glórias,

As bandeiras voando, a artilharia

Retumbando, e as batalhas, e as vitórias...

E fica alegre quando vê que os netos,

Ouvindo-o, e vendo-o, e lhe invejando a sorte,

Batem palmas, extáticos, e inquietos,

Amando a Pátria sem temer a morte!

borboleta

A borboleta

Trazendo uma borboleta,

Volta Alfredo para casa.

Como é linda! é toda preta,

Com listas douradas na asa.

Tonta, nas mãos de criança,

Batendo as asas, num susto,

Quer fugir, porfia, cansa,

E treme, e respira a custo.

Contente, o menino grita:

“É a primeira que apanho,

Mamãe! vê como é bonita!

Que cores e que tamanho!

Como voava no mato!

Vou sem demora pregá-la

Por baixo do meu retrato,

Numa parede da sala.”

Mas a mamãe, com carinho,

Lhe diz: “Que mal te fazia,

Meu filho, esse animalzinho,

Que livre e alegre vivia?

Solta essa pobre coitada!

Larga-lhe as asas, Alfredo!

Vê como treme assustada...

Vê como treme de medo...

Para sem pena espetá-la

Numa parede, menino,

É necessário matá-la:

Queres ser um assassino?”

Pensa Alfredo... E, de repente,

Solta a borboleta... E ela

Abre as asas livremente,

E foge pela janela.

“Assim, meu filho! perdeste

A borboleta dourada,

Porém na estima crescente

De tua mãe adorada...

Que cada um cumpra a sorte

Das mãos de Deus recebida:

Pois só pode dar a Morte

Aquele que dá a Vida.”

Fonte das imagens: Site Colégio São Francisco

Poemas de Olavo Bilac (Coletânea de Poesias Infantis)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

REFLEXÃO – A legitimidade

Quem quiser chegar a ser o que não é, deverá principiar por deixar de ser o que é. (Raumsol)

De onde vem sua inspiração? Como ocorre seu processo de criação? Seja ele esculpir, pintar, desenhar, compor um poema ou música, entre tantos, inclusive, escrever um texto para seu blog? Em que momentos costuma ter “insights”? Ou você os tem o tempo todo? É uma tarefa fácil ou árdua? O que favorece sua “criação”?

É uma mera curiosidade pessoal, isso não deve mudar a forma com que a grande maioria lida com seu “dom”, contudo, é um trabalho que exige como qualquer outro. Pois bem, creio que cada ser humano tenha um dom ou até mais de um, seja daqueles que foram agraciados desde a mais tenra idade (gênios natos?), seja daqueles que, ao longo da vida, descobriram e aprenderam a lapidar a pedra bruta que tinham nas mãos. Enquadro-me na segunda opção e você?

Tenho várias manias na hora de escrever, incorporei algumas durante o curso de Letras, outras, trocando cartas e e-mails e, ultimamente, muitas aprendi “blogando”, apesar de não saber ao certo se desenvolvo a minha escrita melhor assim: preciso do dicionário aqui perto (com isso aprimoro e aprendo novos vocábulos), uma boa gramática (ou várias!) para pesquisa, a Internet é um almanaque sempre à mão e também necessito do silêncio (só o som do teclado e de meus pensamentos!) – adoro saber que tem pessoas que conseguem escrever enquanto ouvem música (ou ruídos quaisquer), é bárbaro! Não é o meu caso… Leio e releio muitas vezes os parágrafos em busca de possíveis erros e “bobagens”, que porventura, venha a escrever no blog. Chega a ser de um preciosismo que desgasta quem escreve e até quem lê, não? Mas, é assim que consigo os “frutos desse trabalho”, embora não seja remunerado, somente um hobby. E daí? Tem menos importância ou valor? O que é feito por prazer e sem fins lucrativos vale menos? Não, não e não!

Infelizmente, nem sempre há “bons dons”, há gente que cultiva “péssimos dons” e consegue destruir ao invés de edificar. E destroem não só coisas materiais, são capazes de destruir o respeito por si e, sobretudo, por seu semelhante.

Há os que são agraciados com dons que outros quereriam para si (invejariam, talvez?) e à certa altura, por mais que se tente, após frequentes fracassos, esse desejo pelo dom alheio desaparece e é possível chegar à conclusão de que há coisas intransferíveis nesse campo. Bem, isso cabe às pessoas que atingem um nível de bom senso e consciência, muito diferente de algumas em que inexiste um e outro. Nesse ponto lembrei-me do filme “O diabo veste Prada”: que preço você pagaria para obter glamour, sucesso e um emprego de status com um belo salário? Não faço campanha de hipocrisia, do tipo que diz “dinheiro não traz felicidade”, traz e muito! Traz conforto, lazer, deixa as contas em dia (o que te faz dormir sossegado!), paga boas escolas para os filhos e tudo mais que é possível sonhar.

Entretanto, o que me propus a refletir hoje é algo que há muito já foi discutido na blogosfera e vira e mexe reaparece. Há algum tempo tenho pensado em postar sobre o assunto que é muito importante, ponderei alguns pontos sobre meu próprio blog, até cheguei a pensar “quem copiaria algo daqui? Sou apenas mais uma em um milhão, há tantos blogueiros talentosos…”, porém, segui conselhos dos amigos, li muito acerca do plágio e concluo que, apesar de “batido”, o tema é presente e causa grandes transtornos aos que são “violentados”, “usurpados” e “lesados” em seus direitos. É inconcebível que haja gente “roubando” ideias e se apropriando do texto alheio como se delas fosse? Tão simples assim? Quanta cara de pau! (desculpa o palavreado, mas, imagino que não tenha outro melhor para quem não respeita a “criação” do seu semelhante e as horas dedicadas à mesma).

Por acaso hoje deparei-me com esse pensador, até então um desconhecido, porém, alguns dos princípios que pude entender, ainda que sem aprofundar-me, vieram a calhar com a atividade de quem bloga decentemente. Iniciei e terminarei o post com dois deles. Bom final de semana pra ti!

Começar é fácil; o difícil é prosseguir a obra.
Será necessário, então, acostumar-se a converter em fáceis as coisas difíceis. (Raumsol)

banner1 Fonte da imagem: Blog Blogosfera Cristã

domingo, 2 de agosto de 2009

Inusitado para uns, comum para outros!



Querido,

nossos encontros começaram há 5 meses apenas e, como muitas histórias de amor, no início são repletas de novidades, aquela sensação de alegria e fascínio parece que não terminará nunca, lembra? Não me interprete mal, não estou a dizer que ficaste menos atraente.

Tantas cartas já escrevi para ti, nem todas tão românticas, algumas foram desabafos de meus problemas pessoais, do trabalho… outras pareceram brincadeiras mensais, escrevia algo inusitado para mexer com suas emoções e com seu raciocínio. Que bom parceiro és ao compartilhar meus escritos, pois, muitos não têm essa compreensão e essa paciência para ler-me, por isso digo sempre que és especial!

És de poucas palavras e eu de muitas, não consigo evitar, aliás, de maio para cá, por conta de uma rouquidão contínua descobri que estou com dois pequenos nódulos nas cordas vocais (vulgarmente chamados de “calos”) e necessitarei fonoterapia, já tive outras rouquidões derivadas de minha rinite alérgica, essa, apesar de perdurar, creio não ser nada grave ou preocupante, ao menos o otorrino disse que a fono resolverá o problema, além de falar somente o necessário no trabalho e tomar mais líquido. Você já deveria imaginar a julgar pelo tamanho das cartas que escrevo, não é? Ria dessa tagarela incorrigível! A culpa chega a ser tua porque tens me dado tantas oportunidades para escrever (e trocar ideias!). Só não faço mais devido à escassez de tempo.

Ultimamente tens ouvido pouco minha voz porque só temos nos encontrado às sextas-feiras. Em nossos encontros que começaram mais frequentes e agora semanalmente apenas, tenho sentido falta do que era, contudo, mudanças são necessárias, fazem parte da vida. Sextas-feiras estão enfadonhas, devo concordar, mas, se não fossem por elas, perderíamos o contato de vez, quem sabe consigamos mudar o dia da semana, desde que não deixemos de nos ver, o que acha? Talvez mais de uma dia apenas, seria ótimo, não? Eu adoraria! Não posso prometer isso ainda, só posso dizer que está difícil dividir esse amor com os outros que já tinha quando nos encontramos. Das obrigações diárias nem falo, são tediosas por demais.

Nunca escondi nada de ti, nem deles. Arrisquei uma espécie de “livro aberto”, salvo algumas devidas proporções, evidentemente. Houve ciúmes e alguns atritos nesse “triângulo amoroso” – meu marido e filho disputaram-me contigo, é bem verdade! Também deixaram-me à vontade muitas vezes porque sabem o quanto o amo e o quanto tens-me feito bem, chegando a ser (quase) meu terapeuta!

Sinto que extrapolo deveras em dados momentos, em outros torno-me mais comedida. Repito: a culpa é tua! Por que me deixa tão livre? Por que não tens um sinal de alerta que diga “Jô, basta!”? Sei que já mostraste: és assim e é isso que tanto me atraiu em ti, se existe erro, ele é apenas meu. Você tem feito sua parte com a qual se comprometeu desde o princípio, deu-me o básico e ficou a meu bel-prazer desde então, inclusive, deixou-me livre também para as novidades que eu pudesse descobrir aqui e ali. Foi o que fiz. Muitas delas me agradaram e só posso agradecer aos que me incentivaram apreciá-las.

Lembras de quem nos apresentou? Sim, a Cris. Essa menina faz parte de nossa história, ela foi nosso “cupido”, ela nos aproximou porque sabia o quanto nos entenderíamos, o quanto tínhamos em comum: as palavras. Por isso és especial para mim! Um amor que só quem vive ou viveu é capaz de compreender, não é?

Esta é mais uma das muitas cartas de amor que pretendo escrever-te, mostrando o quanto aprendo contigo e com os que apóiam esse romance.

Carinhosamente,

Imagem: Obra de Fernand Toussaint “The love letter

Esse é o primeiro post do recente projeto "Vou de Coletivo!" do Murilo Hildebrand de Abreu.