segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Infância ontem e hoje. E amanhã?

— Você lembra daqueles piões em madeira com os quais nossos avós e pais brincavam? Acabei de ver um numa loja de usados…

— Claro. Hoje eles ganharam luzes, sons, muitas cores e não deixaram de ser piões, mas, nossas crianças estão deixando um pouco a infância de lado…

— Será possível criança deixar de ser criança?

— O pior é que pode e está acontecendo de um jeito estranho e gradativo. Já percebeu como estão amadurecendo mais cedo? Como as meninas já se tornam pequenas moças antes do previsto? E os meninos cada vez mais ligados aos videogames e computadores?

— Não havia pensado nisso. Tem razão! Notei mesmo certas mudanças que no nosso tempo eram desconhecidas ou ignoradas, não sei dizer… Tipo essa coisa de hiperatividade e obesidade infantil, parecem mais atuais, não? A gente brincava muito na rua, não tinha essa preocupação com a violência, esse medo de deixar os filhos em contato com os outros não era constante nos pais. É, está difícil ser criança hoje em dia, é uma pena!

— Também acho. Lembrei de tantas brincadeiras de rua que fazíamos com a molecada, era muito bacana: mãe da rua colorida, três mocinhas da Europa, passa anel, balança caixão, lenço atrás, amarelinha… Quanta coisa!

— Nossa! Nem lembrava disso… E já pensou que se fazia muito com bem pouco? Diferente do que acontece com nossos filhos hoje, tão rodeados de brinquedos eletrônicos e cheios de tecnologia? Uma bola servia para futebol entre os meninos, bola-queimada para quem quisesse, vôlei com aquela corda servindo de rede… hehe! E essa mesma corda, então? Era para brincar um dia inteiro fazendo competição de quem pulasse mais modalidades, depois virava cabo de guerra. Algumas pedrinhas viravam logo “cinco Marias” para as meninas e, entre os meninos, as bolinhas de gude rendiam muitos buracos no asfalto! A ideia era reunir e se divertir, hoje não me parece a mesma coisa, talvez porque tenhamos crescido e esquecido desses momentos… sei lá!

— Mas é isso mesmo que vem acontecendo! Nossos filhos estão cada vez mais presos em casa, daí essa proliferação de brinquedos em que se brinca mais só do que acompanhado, como a Internet e seus atrativos, o realismo nas telas dos videogames, bonecas que (quase) interagem feito outra criança, falando, rindo, contando histórias… Uma loucura, não acha?

— Acho sim. Não é à toa que todos os problemas da infância estão mais evidentes, as crianças estão perdendo a essência com tanta informação, meu Deus!

— Não culpo a modernidade, acho que falta um pouco de jeitinho dos pais e até dos professores em resgatar certas coisas e aproveitar melhor os benefícios da tecnologia em favor desses baixinhos, afinal, nasceram crianças como nós e crescem com o que oferecemos, então, se não estimulamos alguns hábitos e nem despertamos a curiosidade deles para o que já existia, é certo que ficarão com o que mais atrai-los…

— Pois é… Difícil um pião de madeira competir com um outro cheio de luzes, sons e cores.

— Cheguei ao meu ponto e é o último dia que pego esse ônibus, vamos continuar essa conversa depois em outro lugar, tá bem? Tchauzinho!

— Tudo bem. Tchau! A gente se fala!

"Tempos de criança" Imagem Stock Photo

Este texto encerra minha participação no “Vou de coletivo” e o tema de novembro foi “Brinquedos – dos mais antigos aos mais recentes”. Aproveito para parafrasear o tema em questão com a despedida do projeto: todos crescemos e é preciso se despedir da infância em algum momento, dessa que contém brinquedos e brincadeiras diárias, entretanto, não é preciso perder a alegria ao fazer essa transição. Apenas mudamos. Se forem positivos, a essência e o aprendizado que decorrem do crescimento devem permanecer.

Como toda viagem, essa chegou ao fim e o projeto ficou com os bons frutos colhidos até aqui.

Transcrevo abaixo o esclarecimento de seu idealizador aos que, assim como eu, viajaram juntos dele. Até mais!

Parada obrigatória

Posted: 21 Nov 2009 03:55 PM PST

Muito obrigado a todos que embarcaram nas viagens que o coletivo fez. Foram momentos de muita criatividade, alegria e, sobretudo, momentos de nascimentos de novas amizades.

Infelizmente, meus compromissos profissionais estão tomando muito tempo e impedindo que eu me dedique mais a este blog, que visite mais os blogs participantes e que detalhe melhor as propostas de blogagens.

Assim, preferi interromper essa iniciativa a ter que continuá-la sem qualidade.

Deixo um grande abraço a todos que dedicaram tempo e carinho ao participarem das blogagens.

Muito, muito obrigado mesmo.

Murilo

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Who Wants To Live Forever?

Em março, quando estreei este humilde blog não sabia exatamente até que ponto chegaria (ainda não sei!), desde então venho (a conta-gotas) desenvolvendo, aprendendo, partilhando o que posso e satisfaço-me com cada conquista. Não almejo aumentar dígitos, embora a curiosidade os procure aqui e ali e sejam, de certo modo, consequência dessa inter-relação na blogosfera, isso não é o que me motivou inicialmente e, agora, mantenho o propósito de, simplesmente, continuar a

CRESCER

Parece algo tão banal e tão simplório, não acha? Alguns  podem dizer que isso é balela porque bem lá no fundo todos querem um lugar ao sol com direito à sala VIP, então, por que alguém se alegraria em ser apenas mais um? Eu direi…

A razão do post de hoje é, novamente, em homenagem a minha mãe. Lá se vai um ano do seu falecimento e parece que foi ontem! Mencionei-a aqui e acolá, não gostaria que o assunto se tornasse chato e recorrente, contudo, é inevitável que recorde datas e fatos tão marcantes para mim e, sobretudo, das lições que  me fizeram uma pessoa diferente (não radical nem completa!), porém, um tanto quanto destemida em relação à morte. Presenciar os últimos dias da mãe e percebê-la “abraçando o próprio fim” nessa esfera terrestre foi, inexoravelmente, doloroso e revelador. Quando meu esposo perdeu o pai há mais de 11 anos eu passei a me perguntar: quem perderá quem a seguir? A vida seguirá a linha aparentemente óbvia dos “mais velhos primeiro” ou nos surpreenderá?

De certa forma ela seguiu o curso mais ou menos esperado “os pais antes dos filhos”, não necessariamente na ordem dos mais vividos ou de idade avançada. 

Por alguns instantes custo a crer na efemeridade, mas, o fato é que não está entre nós como a conhecemos no passado, salvo as lembranças, tanto as boas quanto as ruins pululam em *nossas mentes e corações. De início sonhei com ela umas três vezes, tentei decifrar o que significava: seriam recados ou somente resquícios da memória  transitando entre o que foi e o que é? Como ter certeza?

A depender da doutrina que se segue e se acredita há respostas que acalentam e dão o impulso necessário para continuarmos a caminhada, para continuarmos a crescer, não importando que idade teremos ao findar. Um cunhado costuma dizer em nossas rodas de conversa: Quem quer morrer? Ninguém, claro. Concordo (também quero ficar velhinha e cheia de netos, bisnetos… quem sabe?) e mesmo os que procuram a morte prematura o fazem à revelia, entretanto, tanto uns quanto outros estão fadados a fechar ciclos nesta vida (nascer, balbuciar, engatinhar, andar, estudar, trabalhar,etc.,etc.,etc.) e a morte encerra todos eles. Tenho a dizer que minha mãe fechou muitos ciclos por aqui, se do jeito certo ou errado, não cabe o julgamento, alegro-me que ela tenha visto os filhos se casando e lhe dando netos e netas, que tenha deixado bons exemplos como mãe, superando alguns equivocados ou incorretos, afinal, antes que ela fosse mãe ou qualquer outra coisa, era um ser humano em busca de sonhos e ideais.

"A Luz que traz Vida convida-nos a CRESCER diariamente!"Imagem Stock Photo

E, ao contrário das muitas lágrimas que permearam meus textos há uns meses, confesso que algumas ainda permeiam - e isso só mostra o quanto não sou indiferente ao que vivo; hoje tenho a firmeza de aceitar e conviver com essa perda, em particular, pois, compreendi que mesmo ela é passageira, que os contornos da vida podem ser alterados de modo que sejamos gratos e felizes pelo que somos e temos e também pelo que fomos e tivemos, compreende?

Ofereço este vídeo aos que chegaram até aqui, com a canção que inspirou, em partes, o post de hoje. Agradeço a cada pessoa que se manteve próxima, fosse com uma palavra amiga ou mesmo em pensamento, numa oração. *Em especial, ao meu esposo, irmão e cunhada que estiveram e estão sempre presentes em momentos importantes na travessia do luto à luta!